Adestramento x Consulta Comportamental: quais são as diferenças? 

Adestramento x Consulta Comportamental: quais são as diferenças? 

Muitas vezes, quando falamos sobre comportamento animal, o primeiro termo que vem em mente é o adestramento, comum para ensinar truques e também educar os pets para a convivência dentro do lar. Porém, a consulta comportamental vai além desses pontos e pode auxiliar os tutores em questões mais complexas.

Para auxiliar nesse tema, a profissional Gabriela Nassar Viapiana, médica veterinária especializada em comportamento animal e responsável por esse atendimento na Clinivet, respondeu algumas perguntas comuns sobre a especialidade.

Quando falamos em comportamento, quais áreas são abordadas?

O atendimento comportamental aborda as seguintes áreas:

Prevenção, diagnóstico e tratamento de problemas comportamentais (agressividade, ansiedade, medos e fobias, comportamentos compulsivos, etc).

Prevenção, diagnóstico e tratamento de comportamentos problemáticos (comportamentos normais da espécie, porém que são um problema para o tutor, como por exemplo, um cão que rói e destrói os móveis da casa ou um gato que arranha o sofá);
Compreensão e atendimento às necessidades físicas, mentais e cognitivas de cada espécie;
Melhoria da comunicação e vínculo tutor-animal (visando o bem-estar animal);
Aplicação do manejo de baixo estresse em clínicas, hospitais e pet shops.

3) O que é abordado em uma consulta comportamental e qual a importância dessa consulta para os pets?

A consulta comportamental é dividida em etapas. Primeiramente, é obtido todo o histórico do animal, de onde ele veio, quando chegou na casa, período da infância, características emocionais/personalidade e relacionamento com outros animais e pessoas, dentre outras questões, incluindo ainda o seu histórico médico. Após, avalia-se o ambiente e a rotina do animal e, por fim, é abordado o problema comportamental propriamente dito. Depois de colocadas todas essas informações, são repassados esclarecimentos a respeito do comportamento problemático e uma terapia é então proposta, baseada em manejo ambiental, modificação do comportamento e, se necessário, o uso de psicoativos. O objetivo e importância do atendimento comportamental é melhorar o estado emocional do paciente, aprimorando a relação tutor-animal, corrigindo possíveis comportamentos problemáticos e permitindo ao animal expressar os comportamentos naturais de sua espécie.

4) Quando os tutores devem procurar uma consulta comportamental?

Os proprietários de pets devem procurar um veterinário comportamentalista sempre que seu animal estiver apresentando algum comportamento que esteja afetando a ele mesmo (medos exagerados/fobias, ansiedade, auto-mutilação) ou a família como um todo (agressividade contra outros animais ou pessoas, por exemplo).

5) Em qual fase da vida (idade) é ideal o tutor levar os pets para consultas comportamentais e por qual motivo?

O ideal seria o primeiro atendimento comportamental ocorrer ainda na infância do animal, que é o período mais crítico com relação a aprendizados, memórias e sensibilização a estímulos. Nesse primeiro atendimento, são repassadas inúmeras recomendações e orientações sobre comportamentos normais (e a importância de permitir ao animal expressá-los), enriquecimento ambiental, socialização com outros animais e pessoas, bem como o uso de reforço positivo nos treinos e por que não devemos usar punição. A consulta comportamental na infância é como se fosse uma vacina para a prevenção de problemas de comportamento no futuro!

6) Para os cães o adestramento e comportamento são assuntos comuns, e para os gatos? Isso também é uma possibilidade?

Grande parte dos problemas comportamentais em gatos estão correlacionados com falhas no manejo do ambiente, portanto a modificação ambiental é o pilar mais importante da terapia, juntamente com uma melhor relação tutor-gato. Apesar de não ser tão comum como é no cão, é possível, sim, fazermos a modificação comportamental em gatos através de treinos mais específicos. Alguns exemplos incluem técnicas de como administrar medicamentos ou como cortar as unhas do gato de maneira tranquila e sem estresse.

7) O que são as aulas de socialização para filhotes?

As aulas de socialização de filhotes são mais comuns para cães e têm 3 principais objetivos:

Socializar os cães com outros filhotes e pessoas;
Habituar os cães a diversos estímulos que eventualmente podem gerar medos futuros, como por exemplo fogos de artifício, chuva e trovões;
Educação básica e treinos de obediência.
As aulas devem ocorrer entre os 2 e 5 meses de idade, com duração de aproximadamente 6-7 semanas, e incluem jogos, brincadeiras e interações sociais. Também podem ser realizadas aulas de socialização para filhotes de gato, porém devem ocorrer até a décima semana de vida e com duração de apenas 2 semanas, uma vez que o período de infância mais crítico do gato é mais curto que o do cão.

8) Quais são os principais diferenciais de incluir filhotes nesse programa?

A importância de incluir os filhotes nesse tipo de programa é justamente para aproveitarmos o período infantil, que é o momento mais crítico e fortemente relacionado ao desenvolvimento do comportamento do animal adulto (juntamente com fatores genéticos e ambientais). O papel do médico veterinário comportamentalista aqui é repassar orientações iniciais e, consequentemente, prevenir problemas comportamentais futuros.

9) Quais aspectos são levados em conta ao analisar o comportamento de um pet?

Ao analisar o comportamento de um animal devemos levar em consideração uma série de fatores, alguns deles já discutidos anteriormente aqui (histórico do paciente, período infantil, ambiente/rotina, etc). Vale destacar também em qual contexto o animal expressa esse comportamento e qual a emoção que está por trás de tal comportamento (medo, ansiedade, frustração). Alguns comportamentos podem ser naturais para aquela espécie, porém ocorrem de maneira exagerada ou fora de contexto normal/deslocados, sendo necessária sua correção. Também é de extrema relevância descartar algum problema físico que possa estar causando o comportamento alterado, como por exemplo dor, alergias, doenças endócrinas ou urinárias.

10) Quais são os principais incentivos para cuidar do comportamento dos pets que os tutores podem adotar em casa?

Atualmente se discute muito a respeito do conceito de saúde, o qual aborda não apenas a saúde física (ou ausência de doença), mas também a saúde mental e social do indivíduo e isso vale para os animais também. Cães e gatos são seres sencientes, ou seja, têm consciência das suas emoções e são capazes de sentir e vivenciar estados afetivos positivos e negativos. É de extrema importância, portanto, que seus tutores sejam também responsáveis pelo bem-estar mental de seus pets, providenciando ambientes adequados e atividades nas quais o animal possa expressar seus comportamentos naturais. Vale a pena procurar orientação de um veterinário sempre que for adotar um novo animal, bem como pesquisar materiais e fontes confiáveis sobre comportamento e adestramento.

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